Carmen Sandiego é inteiramente sobre educação.

Especialmente do tipo moral e político.

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Em que lugar do mundo está Carmen Sandiego?

Jacarta, Indonésia?

Mumbai, Índia?

São Francisco, EUA?

A epônima personagem baseada em um uma série educacional de vídeo-games sobre uma ladra vagabundeando pelo mundo roubando artefatos históricos sem valor. Ao longo do caminho, aprendemos sobre geografia, história e ortografia!

Enquanto na série de videogames Carmen é a vilã que o jogador tenta impedir, na série, ela é transformada em uma heroína que rouba de uma organização maligna chamada V.I.L.E (Liga Internacional do mal) para proteger artefatos de serem vendidos para financiar projetos com objetivos maliciosos. Isso faz dela uma ladra estilo Robin; se Robin Hood usasse lindas botas pretas e um maravilhoso sobretudo vermelho.

Enquanto as rotas educacionais do jogo continuam na série (sei muito sobre Duriões agora), a série igualmente coloca ênfase em questões morais e políticas. Carmen Sandiego está nas sombras, e os maus do mundo, também estão.

Ainda que o roteiro as vezes seja desengonçado, a série mostra como o mal realmente age no mundo real. Não é um vilão construindo uma bomba ou qualquer outra coisa apocalíptica sem sentido, mas uma entidade perigosa manipulando tudo por debaixo dos panos de instituições financiadas.

Usando as ferramentas dos corruptos contra eles, Carmen fornece uma educação vital sobre ativismo e resistência que realmente se aplicam nos dias de hoje. Essas são mensagens importantes dadas ao jovem público-alvo da série.

A luta de Carmen Sandiego contra a V.I.L.E é pessoal. Ela cresceu com a organização quando eles a encontraram na Argentina ainda bebê. Ela foi adotada pela V.I.L.E da mesma maneira que uma certa princesa do poder empunhando espadas foi criada por uma organização “assustadora” em outra série da Netflix (estou sentindo um padrão Netflix aqui).

Consequentemente, Carmen durante toda a sua vida quis ser uma ladra e nunca questionou sua criação. Isso tudo mudou na sua primeira missão, que ela se infiltra secretamente para provar seu valor depois de reprovar nas provas (sim, ela foi para uma escola de ladrões estilo Hogwart, e seu professor Shadowsan a reprovou depois de ela falhar na prova de batedora de carteira). Carmen e seus amigos são encarregados de roubar uma escavação arqueológica, e Carmen rapidamente recebe um argumento moral contra o assalto quando ela casualmente conversa com o arqueólogo chefe da escavação (estou começando a entender por que você falhou em seus exames, Carmen):

“Algumas coisas tem mais valor que somente o monetário, mocinha. Qualquer achado histórico dessa escavação pertence à todo mundo. Rouba-los seria roubar do mundo o conhecimento, e esse seria um verdadeiro crime.”

Carmen internaliza esse argumento rapidamente, e depois de impedir que os agentes da V.I.L.E matem esse mesmo arqueólogo, ela decide dedicar sua vida para evitar que a V.I.L.E “roube do mundo” sua herança cultural. Ela quer contribuir para o bem de todos.

A organização contra a qual ela está lutando, assim como os vilões da vida real, querem maximizar os ganhos de curto prazo às custas do crescimento da humanidade ao longo prazo. A tensão entre essas duas perspectivas se torna a base filosófica da série.

Carmen está focada no fim, não nos meios. Uma cena que confirma esse fato perfeitamente é uma do episódio oito, “Missão Gato da Sorte”. Ela está lutando contra sua inimiga da escola para ladrões, Tigresa, em uma loja de souvenirs de São Francisco que vende gatos da sorte (Maneki-neko). Vários são quebrados na briga, e, antes de Carmen ir atrás de Tigresa, joga para a lojista um maço de dinheiro para pagar o prejuízo.

Esta é uma mudança notável em comparação aos heróis mais famosos da cultura pop . Quando olhamos para super-heróis como Homem de Ferro ou Super-homem (muitos homens aqui), sua autoridade muitas vezes se torna justificativa suficiente para danificar a propriedade de “cidadãos comuns”. Enquanto eles refletem sobre a questão moral de se é errado ou não matar, eles não têm remorso em destruir cidades inteiras para deter o grande vilão.

Carmen não tem vergonha de seus métodos, chamando a si mesma de “ladra do chapéu branco” em referência ao termo “hacker do chapéu branco”. Ela coloca muita energia mental em atenuar e prevenir os danos a si mesma e ao inimigo. Uma coisa comum em toda a série é que ela doa muito do dinheiro que rouba da V.I.L.E para instituições de caridade locais. Ela está literalmente agindo de acordo com o que ela diz acreditar .

Eu não vi o Homem de Ferro reconstruindo Sokovia (um país inventado em sua luta com Ultron em Vingadores 2).

A V.I.L.E é o oposto, frequentemente prejudicando o mundo por dinheiro. No episódio Missão Arroz Grudento sabemos que a V.I.L.E gerou biologicamente um esporo para destruir a produção de arroz na Indonésia (sua produção de alimenticia primária) com objetivo de vender uma versão inferior.

Isso não é totalmente história de ficção científica. Companhias usam flora bio gerada para derrubar os concorrentes o tempo todo. Monsanto, em particular, é bastante conhecida por usar colheitas patenteadas para monopolizar setores inteiros da economia. Em um artigo, Monsanto foi descrita como sendo agressivamente letal, ao ponto dos cães de caça dos fazendeiros serem prejudicados.

"Os agricultores os chamam de 'políciais das sementes' e usam palavras como 'Gestapo' e 'Mafia' para descrever seus métodos."

Ao contrário da V.I.L.E, no entanto, a lei em grande parte está do lado da Monsanto. A Suprema Corte decidiu em favor da empresa em 2013. Algumas das piores entidades do mundo se escondem atrás da lei. Da mesma forma, a V.I.L.E tem grande cuidado em esconder-se atrás de esquemas e mentiras.

No episódio cinco, Missão Duque de Vermeer , a vilã chamada de A Duquesa está disfarçadamente roubando pinturas de Vermeer e substituindo por cópias, para que ela possa vender os originais no mercado negro. Ladrões trocam originais por cópias o tempo inteiro. O mundo da arte é um dos focos da atividade criminosa, principalmente porque transportar arte é uma maneira fácil de contrabandear e levar grandes quantias de dinheiro pelas fronteiras.

Onde há uma falha, há uma força maléfica está tirando vantagem, e elas na maioria das vezes se parecem com os vilões da V.I.L.E - membros da realeza, gênios da tecnologia, gentis empresários - não aqueles malfeitores megalomaníacos que nos acostumamos a ver em desenhos animados (apesar de na série existirem alguns desses). O mundo tem tons de cinza, e é um ponto que a série mostra explicitamente no episódio cinco.

“Um lembrete cruel de que vivemos em um mundo onde nem sempre vilões parecem vilões, nem heróis parecem heróis… é importante que nós vejamos o mundo em tons de cinza.”

Os vilões da série comandam uma corporação multinacional escondida atrás dos panos, e nossos heróis (Carmen & companhia) são os que fogem de uma organização policial secreta chamada ACME (Agência para Classificar e Monitorar Malfeitores).

As aparências enganam.

Na verdade, um dos momentos mais comoventes da série brinca com esse fato. Durante toda a primeira temporada, está implícito (alerta de spoiler) que a vilã Treinadora Brunt foi quem encontrou Carmen na Argentina quando ela era bebê. Treinadora Brunt é firme e sensível às necessidades de Carmen. Ela é a figura materna, e se espera que ela seja compreensiva com a menina.

No episódio final, Missão Conexão Francesa, Treinadora Brunt enfrenta Carmen. Ao invés de dar proteção à sua filha postiça, Treinadora Brunt da um abraço de urso em Carmen com a intenção de a estrangular até a morte Quem que finalmente a salva é Shadowsan – o professor que reprovou ela na a escola de ladrões. Ele derruba a treinadora Brunt, e aprendemos via monólogo que ele foi quem encontrou Carmen na Argentina. Acontece que ele a reprovou na prova de batedores de carteira por uma razão realmente compreensível:

“Eu não desejava que você tivesse êxito na escola do crime, porque eu não suportaria a ideia de você chegar ao momento de ter que escolher o caminho do mal.”

Ele fez algo errado (mentiu) para fazer algo certo (impedir Carmen de ser uma vilã), e no processo nos dá outro exemplo de que as vezes devemos deixar a moralidade de lado para fazer a coisa certa. Você tem que considerar o fim, não só os meios.

Carmen Sandiego não é a melhor série animada por aí. Os diálogos são desajeitados, e se você já assistiu She-ra e as princesas do poder, você consegue adivinhar o clímax de longe. Ainda assim, é uma série que tem uma mensagem fantástica para as crianças: O mundo é complicado, o mal vai além de umas simples divisão entre bom e ruim, você nunca é muito jovem para combater o mal, especialmente se tiver um

maravilhoso sobretudo vermelho.

Original Article: https://medium.com/@alexhasopinions/carmen-sandiego-is-all-about-education-87442ac44165